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Gênero



Boa parte da produção de sentido da música popular é feita à partir de sua cassificação em gêneros. Assim, quando examinamos o modo como os elementos musicais produzem sentido (o som, a voz, as letras, o ritmo), nós não podemos deixar de relacioná-los com os códigos do gênero ao qual ele pertence. Parte da comunicação dos sentidos e valores expressos pela música popular massiva estão inscritas na codificação de gênero, ou seja, os gêneros musicais, determinam, em parte, diferentes tipos de julgamentos estéticos, competências diferenciadas para que se construam determinados quadros de valor em relação a certas expressões musicais. Simon Frith delimita a influência do gênero na música popular basicamente em três áreas: na organização do processo de venda, na organização do processo de produção e na organização do processo de audição (incluindo aí a crítica musical).
A divisão em gêneros integra as especificidade da música com as do mercado fotográfico. Ao se vincular um músico ou uma banda a um determinado gênero, uma gravadora está querendo atingir um nicho específico de mercado. De certo modo, toda a codificação do CD - seja sonora ou visual - aponta para a existencia de um ouvinte esperado, o que se aproxima bastante do conceito de leitor modelo de Umberto Eco. O leitor modelo não deve ser confundido com o leitor empírico ou concreto. Trata-se de uma construção realizada pelo próprio autor do texto que funciona como uma condição indispensável da comunicação. O leitor modelo é criação de um autor-modelo, pois esse último, ao gerar um texto, move-se como um jogador de xadrez que prevê os lances do outro jogador. O autor, afirma Eco, movimenta-se gerativamente, concebendo um leitor que, por sua vez, se movimentará interpretativamente : “prever o próprio leitor- modelo não significa somente ‘esperar’ que ele exista, mas significa também mover o texto de modo a construí-lo”. Estamos, portanto, diante de um jogo com uma estrutura circular: o texto postula um leitor-modelo que, por sua vez, dá forma imaginária a um autor- modelo.
A divisão em gêneros está presente não só nos modos que a indústria fonográfica utiliza para direcionar seus produtos para o consumidores potenciais, como parte dos julgamentos de valor, os gêneros nascem em um campo de forças entre fãs, músicos, críticos, produtores e profissionais da comunicação (Rádio, TV, jornais...). Seguindo Frith, podemos afirmar que o gênero musical “ (…)é uma conversa silenciosa que acontece entre o consumidor, que sabe asperamente o que quer, e o vendedor, que trabalha copiosamente, para imaginar o padrão dinâmico dessas demandas”. Esses pressupostos implicam o reconhecimento de que os gêneros da música popular não podem ser descritos e compreendidos apenas por seus componentes econômicos. As próprias estratégias de divulgação e distribuição apontam para outro polo importante nessa disputa: o consumidor.
Uma parte importante da circulação e do consumo dos bens culturais midiáticos está ligada às classificações efetuadas pelas críticas, como também ao próprio modo como essas classificações permitem ao consumidor organizar e reconhecer suas valorações dos produtos culturais. O gênero musical não só delimita quem são seus consumidores, mas também o modo como se deve ouvir essa música. O gênero também funciona como um importante mediador do consumo musical é a crítica.

Mp3 não diminui as vendas de CDs


A Indústria musical frequentemente acusa a troca de arquivos de Mp3 como responsável pela atual diminuição das vendas nas lojas de CD. Nos últimos anos, as grandes gravadoras desenvolveram uma campanha contra o Napter, e todos seus filhos. Porém, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos concluiu que: "No máximo, a troca de arquivos só pode explicar uma pequena fração do declínio das vendas na indústria musical". Felix Oberholzer-Gee da Universidade de Harvard e Koleman Strumpf da Universidade da Carolina do Norte rastrearam milhões de downloads de música na interner atrevés do OpenNap file-trading network e os compararam com as vendas de CD que contém as mesmas músicas para, a partir daí, medir a influência das Mp3 no mercado fonográfico.
Oberholzer-Gee e Strumpf monitoraram mais de 680 álbuns de diversos gêneros musicais baixados no segundo semestre de 2002. Eles utilizaram um programa que monitoravam automaticamente os downloads e comparavam esse arquivo com as mudanças nas vendas dos mesmos álbuns, procurando estabelecer alguma ligação entre os dois. As canções mais copiadas não apresentaram qualquer diminuição de vendas. Na verdade, os álbuns que venderam mais de 600,000 cópias durante esse período aparentaram vender mais, quanto mais forem copiados na Internet. Para Oberholzer-Gee e Strumpf, "do ponto de vista estatístico, isso significa que não há efeito entre os downloads e a diminuição de vendas".
A Recording Industry Association of America (RIAA), que representa as maiores companhias da indústria fonográficas, aponta para outros estudos que sugerem que existe sim relação entre o declínio das vendas de Cds e o crescimento da troca ilegal de arquivos. "Dezenas de pesquisas confiáveis têm demonstrado que a troca de arquivos ilegais tem impacto direto na venda de CDs," afirma Amy Weiss, representante da associação. As pesquisas têm indicado que aqueles que copiam mais arquivos “ilegalmente” são aqueles que menos compram música por “meios legais”. A RIAA tem concentrado seus esforços na diminuição da troca de arquivos de música online. A tática mais dramática da associação tem sido rastrear centenas de usuários de Mp3 para processá-los por desrespeitar a lei do copyright.
Oponentes dessas táticas, como alguns grupos de consumidores, músicos e estudiosos de música, acusam a indústria fonográfica de subestimar a importância da troca de arquivos como uma nova potencial de distribuição. Em sua pesquisa, Oberholzer-Gee e Strumpf sugerem que a queda de vendas nas lojas de CDs se deve à atual situação econômica dos EUA e ao aumento dos preços dos CDs.

Performance


Uma diferença notável entre um concerto de música erudita e um show de Rock pode ser notada ao se observar o comportamento, tanto dos músicos quanto da platéia. Se na música erudita a performance está maquiada e escondida sob camadas de formalidade e de anulação no corpo, não se pode nem mesmo pensar Rock sem performance. Muitos dos grandes mitos da música pop são, na verdade, mais conhecidos por seus feitos dentro e fora do palco que por suas realizações musicais propriamente ditas. Histórias como a o show em que Ozzy Osbourn comeu um morcego vivo ou quando os músicos do Red Hot Chilli Peppers tocaram vestidos apenas com uma meia nas partes baixas configuram toda uma mitologia moderna do rock. A performance aparece como um modo de se comportar no palco, mas também como um modo de viver (lifestyle).
A apresentação em um show de rock não se resume à execução de uma obra, são misturados na performance elementos de teatro, dança e retórica. Não se pode também restringir o papel da platéia à mera apreciação, a capacidade do ouvinte de entender e partilhar os significados da música e sua disposição em participar do evento são imprescindíveis para um show de Rock. Na verdade, o próprio ato de ouvir, e reagir à música, é performático. A performance funciona como um jogo em que participam tanto a banda como a platéia, não é a toa que tocar e jogar tocar sejam sinônimos em diversas línguas (spielen no alemão, play no inglês e jouer no francês).
A relação entre composição e performance também apresenta algumas diferenças no rock. Na música européia os papéis estão bem divididos com uma importância muito maior para a primeira no blues, ao contrário, a composição é deslocada para um plano longínquo (só pensar quantos Hootchie Coochie Man diferentes existem). O rock se encontra em um meio termo entre a música de concerto e o blues, a questão da originalidade é da fidelidade à composição é valorizada em subgêneros como o Heavy Metal, mas parecem estar deslocadas no Punk. Se questão da fidelidade à composição não é mais central, a performance/interpretação convincente ganha um espaço significativo, o que possibilita o aparecimento de versões inusitadas, que apesar disso são consideradas boas, como Joey Ramone tocando What a wonderfull world de Louis Armstrong.
Como um fenômeno da cultura de massa, a maior parte da experiência do rock só pode vivida através de meio de comunicação de massa. Para os mais nostálgicos, a enxurrada CDs, videoclipes, revistas, camisetas demonstram a decadência do Rock que não possui mais a característica ritualística demonstrada em Woodstock por exemplo. Entretanto, o rock nunca se bastou nas apresentações ao vivo, e muito menos na música. Se a presença física do executante é abolida, desaparece a performance? Se entendermos que a performance unifica diversas dimensões artísticas, apenas a presença física da banda é suprimida, mantendo outras características - como a voz e a corporificação da banda. Na audição o ouvinte corporifica a música que ouve em um tipo de "performance imaginária" - o que nos leva a pensar em homens "másculos" e malhados ao ouvir Heavy Metal.
Ritmo: Dos pés à cabeça

O rock é uma musica feita para dançar, ele nos toma o corpo e nos faz balançar. Esse tipo de argumento utilizado tanto para desqualificar como para romantizar o Rock. Se um lado há aqueles que o acusem de "emburrecer" a juventude por não valorizar o caráter racional e contemplativo da música, produzindo assim uma música ligeira, um fast food musical. Do outro lado os "românticos" tentam argumentar sobre a capacidade que o Rock tem de hipnotizar as pessoas e promover a transcendência, um pensamento muito hippie pro meu gosto. É complicado restringir a ação de qualquer tipo de música tanto ao cérebro quanto ao corpo, essa dicotomia herdada de Platão. Que a música erudita e o rock têm modos diferentes de serem fruídas é óbvio, mas isso não desqualifica a experiência estética do ouvinte de rock. A única coisa que se pode ter certeza é que nele o ritmo tem um papel importante.
Há estudos que destacam o influencia dos padrões de ritmo e andamento na carga emocional da música, partindo daí a associação entre ritmos mais vazios e lentos e tristeza ou melancolia, outros mais agitados e dançantes com alegria e festividade e ainda outros mais marcados com a agressividade. No início de sua história, o Rock se caracterizou como uma música dançante de batida simples, constante e agitada (4/4 com ênfase no primeiro tempo), mas com a sua evolução e fragmentação em diversos subgêneros, essas estruturas rítmicas se complexificaram e passaram a ter características próprias em cada subgênero. Hoje em dia existem subgêneros que se caracterizam por canções rápidas e alegres (ska, hardcore melódico), rápidas e agressivas (punk inglês, trash metal), lentas e melancólicas (new metal, indie), etc. Outros subgêneros nasceram da apropriação de elementos ritmicos extra-roqueiros, como é o caso do Skacore ou do Manguebeat.

Gritos e Sussurros


Para qualquer amante do rock, ou para qualquer pessoa que more com um amante do rock, é notável que o volume é um aspecto muito importante a ser considerado. Em muitos momentos da história do rock, o volume foi utilizado como um meio de chocar ou para demonstrar como o gênero era diferentes dos outros estilos musicais - mais autentico, agressivo, vibrante. Entretanto Mais que em qualquer outro gênero musical, no rock o volume (ou a variação dele) é utilizado como matéria formal.
O volume é aspecto interessante para uma música que pretenda afetar o corpo. A música muito alta provoca um maior efeito sobre o corpo, não só no sentido de ensurdecer os ouvidos, mas na sensação quase tátil que se tem da música "vibrando na cavidade do peito" (BAUGH, 1994, p.23). Alguns subgêneros do rock utilizam largamente esse recurso, no punk o pulso provocado pelo volume e a agressividade da música faz mais sentido que a harmonia ou a melodia.

"O estilo punk era barulhento, rápido e agressivo. Persiste o mito que tudo se resumia a três acordes e uma atitude".(SHUKER, 1999, p.09).

Outra forma de trabalhar o volume no rock é alternância entre sons intensos e mais brandos. Esse recurso é utilizado amplamente pelos cantores de blues e soul - na verdade a variação no volume e nos tons qualificam um certo modo negro de cantar - e passou a ser usado no rock, o fato de Elvis Presley cantar e dançar como um negro causou nos anos 50 uma reação negativa da classe média americana. O uso do microfone aumentou consideravelmente a possibilidade de alternância no timbre e na intensidade da voz. Na época em que os cantores dependiam da acústica do teatro para serem ouvidos pouco se podia variar no volume do canto. Entretanto o microfone possibilitou novas formas de expressividade no canto desde os agudos do Hard Rock aos sussurros do indie.
Dança


É na dança que a ligação entre o ritmo e o corpo apresenta-se de maneira mais clara e imediata. O rock nasceu como um música essencialmente de baile onde dança ocupa um lugar de destaque e mesmo com sua fragmentação em diversos subgêneros, a dança nunca deixou de ocupar seu lugar no universo roqueiro. É certo que a dança não é exclusividade do rock e nem o rock é exclusivamente uma música dançante.
O ato de dançar data, no mínimo, do século XVI e tem um papel muito importante em outros gêneros da música, tanto erudita quanto folclórica, como a valsa e a tarantela. Entretanto, na música erudita o ato de dançar é extremamente formalizado, na música popular e especialmente no Rock há um grau maior de liberdade e expressividade no movimento corporal. Na dança de corte o corpo se vê subordinado ao rigor formal, o melhor exemplo é o balé romântico onde beleza está ligada a aspectos como a precisão, rigidez e complexidade do movimento.
Em contraste, o efeito da música sobre o corpo é de importância primordial para o rock, e toda música derivada dele. Certo que há formas de dança específicas de cada subgênero e, mesmo em estilos que não enfatizem a dança, há sempre o espaço para alguma atividade física de resposta ao estímulo musical - como o pogo do Punk Rock e o headbanging e o moshing do Metal. O Pogo dancing, por exemplo, consiste em uma dança (?) onde todos pulam, chutam e socam o ar e quem estiver na frente. Entretanto o papel participante do ouvinte está bem mais claro no Rock, não se tem grande compromisso com um padrão pré-existente, mas sim com a batida da música.
Bateria


A formação típica da uma banda de Rock já denuncia a importância que a batida tem no rock ‘n roll. Existem bandas sem contrabaixo (White Stripes), sem guitarras (Morphine) ou sem cantor (Man or Astroman?), mas é difícil encontrar uma banda de rock sem baterista. A bateria acompanha o rock desde sua infância, no início dos anos 50, e é foi elemento marcante na diferenciação entre Blues tradicional e o Rhythm 'n' Blues – ancestral direto do Rock. Claro que o Rock não foi pioneiro no uso da bateria, mas foi só na banda de Rock que a bateria passou a ocupar um lugar de destaque. Se na música erudita ou na Motown vemos os percussionistas na última fila da orquestra, tristes, esperando toda uma sinfonia para bater um prato ou rufar um tambor, no Rock muitos bateristas alcançaram uma fama considerável - como é o caso de John Bonham do Led Zeppelin, de Lars Ulrich do Metallica ou de João Barone do Paralamas do Sucesso.
Alguns subgêneros do Rock como o Punk e o Trash Metal se caracterizam exatamente pela valorização do pulso, com uma batida primária, instintiva e agressiva, em detrimento da melodia e harmonia. Em outros subgêneros mais voltados para a dança, como o rockabilly e o new wave, o ritmo é constante e bem marcado. Parece consenso que o Rock é um tipo de música que toma o corpo como interlocutor, e se ele realmente o faz é pelo ritmo.
Banda


Um dos aspectos mais importante que diferencia universo do Rock de outros estilos musicais é a predominância de bandas ao invés de carreiras solo. Até a década de 50, quando as primeiras bandas de Rock surgiram, a música popular era, predominantemente, composta de artistas solos. Enquanto divas e tenores vindo da música clássica alegravam as famílias "cultas", a música popular era dominada por crooners, cantores acompanhados por bandas e bluesmen. No Brasil, vivíamos uma situação parecida, no samba-canção e na bolsa nova se notava claramente a centralização no cantor compositor. Mesmo no início da história do rock as bandas, também, não tiveram destaque, talvez por influência direta do Blues, existia uma valorização maior dos “showmen” - vocalistas que, na maioria das vezes, também tocavam o instrumento de maior destaque na banda. Esses showmen ocupavam a função de artistas autônomos que tinham na banda apenas um acompanhamento (Jerry Lee Lewis, Elvis Presley e Chuck Berry).
Somente na década de sessenta com acrescente consolidação e amadurecimento do Rock surgiram as primeiras bandas de rock como nós as conhecemos hoje. Ao mesmo tempo em que bandas como The Beatles, Rolling Stones e The Who consolidavam o formato banda, apontavam a possibilidade de uma marca autoral no Rock n'Roll. Enquanto as orquestras as Big Bands ou as bandas da Motown eram encaradas como meros acompanhamentos para a voz do cantor, a banda de Rock passariam a buscar uma expressividade e uma marca "autoral", mesmo que em conjunto. Se poderia ser difícil diferenciar uma gravação do instrumental de Jerry Lee Lewis e Chuck Berry ou Little Richards, a diferença entre uma gravação dos Beatles e de Bob Dylan é facilmente notável.
As bandas de Rock geralmente são formadas de 3 a 5 componentes com a presença de um baixista, uma ou dois guitarras (um pianista no início da história do Rock), um baterista e um vocalista. É claro que isso pode mudar dependendo do gênero, ou subgênero, ao qual a banda se filia, mas o núcleo central da banda de rock dificilmente é mudado. A medida em que o Rock foi diluído na cultura de massa, o formato banda também foi exportado para outros gêneros da musica popular - como o Reagge e o Soul – ao mesmo tempo em que o cantor solo se tornava comum em versões diluídas do Rock, o que é vendido na prateleira de música Pop hoje em dia. Com o delay característico, nas outras partes do mundo o formato banda demorou um pouco mais para ser dominante, enquanto os Beatles já começavam a sonhar, artistas como Rita Pavone na Itália e Cely Campelo no Brasil ainda faziam sucesso com versões açucaradas de sucessos americanos da década de 50.
A música popular brasileira se apoia na figura de cantores/compositores como Tom Jobim, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Apesar do aparecimento irregular de algumas bandas de sucesso durante as décadas de 60 e 70 como Os Incríveis, Mutantes, Secos e Molhados e Novos Baianos, na verdade as bandas só foram ter um peso significável na música brasileira a partir dos anos 80 com bandas como Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso, Titãs e Legião Urbana, que dominaram o cenário nacional por algum tempo.
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