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Glam Rock
Mais que um gênero musical, o Glam Rock, também chamado de Glitter Rock, tem a ver com estilo. Um estilo nada discreto que apareceu na Inglaterra do início dos anos 70 e se popularizou principalmente a partir da explosão do alter-ego de David Bowie, Ziggy Stardust. Não sendo um gênero musical fechado e bem formalizado, as mais diferentes bandas foram classificadas de Glam. Desde o pré Hard-Rock de Garry Glitter e Kiss até punk de butique (esse sim o verdadeiro) do New York Dolls, passando pelo tecno-pop do Roxy Music. Pode se dizer até que o Queen tem um pezinho, ou quem sabe um bigodinho, no Glam.
A performance de palco, um elemento muito importante para as bandas de Rock em geral, foi potencializada pelo Glam Rock. Até o início dos anos 70, os concertos das bandas de Rock não tinham nada de grandiosos. No início dos anos 60 Bandas como Beatles, Rolling Stones e The Who tocavam em clubes, casas de show ou faziam turnê com uma dezena de outras bandas. Na América hippie, eram comuns grandes concertos e festivais com diversas bandas se apresentando. Mesmo nos grandes shows do início dos anos 70 de bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath e Rolling Stones, pouca atenção era dada aos elementos cênicos. Em meio aos cabelos coloridos, trajes espalhafatosos, pirotecnia, iluminações das mais diversas, fogo, fumaça, androginia e muita maquiagem, as bandas Glam levaram às últimas conseqüências a palavra show.
Nascido na Inglaterra do início dos anos 70, a Glam Rock pode ser entendido como uma reação à seriedade do Rock Progressivo e da contracultura, mas também como a extensão desses movimentos. O estilo das bandas de Glam pode ser definido como uma combinação da “elegância” ultra colorida dos hippies com a dureza do mods. Da mesma forma, a sonoridade do Glam Rock varia entre a frivolidade flower power – algumas canções de David Bowie, Gary Glitter e Kiss – ao som seco que influenciaria o punk rock – outras canções de David Bowie e principalmente o New York Dolls.
Porém, apesar do Glam Rock ter nascido como resposta aos chatíssimos e longos solos de guitarra do Rock Progressivo, por ironia do destino, a junção dos principais elementos do Glam com alguns elementos do Rock Progressivo – como os chatíssimos e longos solos de guitarra – fizeram nascer toda a geração do Hard Rock – ou Metal Farofa. Em toda parte, de Kansas a Chicago, da Asia à Europe grandalhões peludos passaram a se vestir em trajes coloridos para envenenar (Poison) nossa visão e audição. É claro que até mesmo nesse terreno infértil surgiram boas bandas como o Twisted Sister e seu visual Vovó Mafalda que, a exemplo das bandas de Glam dos anos 70 e ao contrário da maioria dos grandalhões peludos, perceberam que isso tudo não passava de uma grande brincadeira.

Glam Rock no Brasil
Importando, traduzindo e misturando o Glam Rock com o folclore e a literatura nacional, os Secos e Molhados foram um dos grupos mais festejados na história do Rock nacional. As performances de Ney Matogrosso com trajes de índio, rebolados ao estilo Carmem Miranda e vocais agudos renderam à banda sucesso de crítica e público. Seu primeiro e clássico disco bateu Roberto Carlos em vendagens, com mais de um milhão de cópias vendidas, e arrastou multidões enlouquecidas aos shows pelo país. Um desses shows, assistido por mais de 25 mil pessoas no Maracanãnzinho, foi transmitido via televisão para todo o país – um fato marcante para a mídia brasileira já que essa foi a primeira vez que isso acontecia.
Enquanto os Mutantes, ou o que restava deles, se entregavam cada vez mais ao LSD e ao Rock Progressivo se tornando cada vez mais antiquados e esquecidos, Rita Lee parecia estar mais atenta às novas tendências do Rock. Em seu grupo Tutti Frutti usava e abusava do visual baseado em cabelinhos escorridos, botas de cano alto e bocas rebocadas de batom. Outro grupo que entrou na moda foi o Casa das Máquinas. Apesar de depois ter tocado Rock Progressivo, seu primeiro disco tinha o som e visual do Glam Rock. O Made In Brazil, que em um primeiro momento teve muita influência do Blues e Rock´n Roll tradicional, também andou por aí se pintando, especialmente no disco ‘Jack, o estripador’, lançado em 1976. Mais tarde a banda se voltou para o Hard Rock, mas seu vocalista e fundador, Cornelius Lúcifer, levou adiante o namoro com o glam em seu único disco solo.
O maior, e menos conhecidos, representante do Glam no Brasil são Eddy Star, ex-parceiro de Raul Seixas e Sérgio Sampaio e Serguei. Eddy Star se apresentava com um visual escrachado e um repertório variado, que incluía Haroldo Barbosa, música inédita de Roberto Carlos (‘Claustrofobia’) e Lupicínio Rodrigues, ele surgiu e desapareceu tão rapidamente quanto o glam rock no país. Seu único disco, lançado em 1975, continua inédito em cd. Já Serguei continua tocando, talvez tocando seja um exagero, até hoje e teve como ponto alto de sua carreira um apresentação no Rock´n Rio II.
Religião II
Entre a cruz e o pentagrama
Para o bem ou para o mal, literalmente, muito da mitologia do rock´n roll tem a ver com figuras religiosas. Desde os músicos de soul, que cantam a palavra lord a cada cinco segundos, até os góticos, que costumam se reunir em cemitérios para ouvir música, a religião tem muito a ver com a história do rock. Muitos nomes de bandas são baseados na religião - Jesus and Mary Chains, The Gratefull Deads, Black Sabbath, Judas Priest, Bad Religion, entre outros - outros tantos nomes de música também o são - 666 the Number of the Beast, Stairway to Heaven, Born to Raise Hell... A música, e em especial o rock, sempre serviu a religião, seja para se contrapor a ela ou para propagar sua fé - seja ela qual for.
De fato, muitos dos elementos formais do rock´n roll vêm da fé cristã, principalmente da igreja protestante negra - como o vocal gritado beirando o êxtase, o solista acompanhado por um coro, o pipe organ. Muito dos cantores negros famosos têm suas raízes a Igreja - Aretha Franklin was a son of a preacher man, BB King costumava levar seus 15 filhos todos os domingos para a missa (isso antes deles serem todos presos). Porém, além do culto religioso ter servido como base para muita coisa no rock, o impacto da música está sendo absorvido em muitas igrejas cristãs que adotaram formas purificadas de música rock para seus cultos de adoração e em seus esforços evangelísticos, criando gêneros um tanto quanto bizarros como o White Metal.
Se por uma lado a ligação do rock com Deus é antiga, não é por menos tempo que o Diabo se balança ao som do rock´n roll. Desde os tempos do blues do delta do Mississipi muitas histórias envolvem bluesmen e o Diabo. A mais famosa delas é a de Robert Johnson – que teria vendido sua alma em uma encruzilhada para ser o melhor guitarrista do mundo. Se essa história é verdadeira ou não ninguém sabe – mas fato é que, a muito tempo, o Diabo faz parte da mitologia do rock. O próprio Robert Johnson contribuiu para isso com suas músicas Me and the Devil e Crossroads, onde ele canta, entre outros versos: “Me and the Devil was walking side by side” e “Early this mornin when you knocked upon my door / and I said, hello satan, I believe it's time to go”. Algum tempo depois essa ligação com o Diabo é herdada pelos bluesmen brancos da Inglaterra – que na verdade imitavam tudo que os negro do sul faziam, só não se pintavam de preto. Os Rolling Stones, em Sympathy for the Devil, e o Cream, fazendo cover de Crossroads, mantiveram o diabo em pauta na música popular.
Porém, se no blues essa ligação com o Diabo era tomada com certa ironia, malandragem, algum tempo depois ela tomou contornos mais sérios – muitas vezes beirando a babaquice. A banda Black Sabbath, cujo nome é referência ao sábado sagrado judaico, utilizou-se da religião como tema para muitas de suas músicas. Suas letras tinham conteúdos ora pró-Deus ora pró-Diabo, e foi exatamente essa indecisão um dos fatores para separar a banda. O Black Sabbath, com seus riff pesados e temáticas sombrias, criaram todo um ramo do rock chamado Metal.
No metal o Diabo é levado a sério, na verdade tudo no metal é levado a sério, o que gerou boas bandas, muitas ruins e uma confusão dos Diabos. Desde análises paranóicas em busca de significados secretos nas letras de bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath, suspeita de mensagens subliminares ao se ouvir o disco ao contrário e toda baboseira do gênero. Na década de 70 isso ia se tornar mais sério quando um grupo de senhoras católicas que não tinham o que fazer decidiram acabar com essa música do demônio. Elas proibiam shows, censuravam discos e pesquisavam sobre as referencias satânicas das bandas – uma delas até descobriu que Kiss na verdade significava Kero Idolatrar e Servir Satã. Só não consigo imaginar todas essas senhoras reunidas em casa, tomando chá, comendo sequilhos e ouvindo discos de Metal para descobrir neles os versos satânicos.
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