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Esquecidos: Bo Diddley




Bo Diddley não criou refrões clássicos para a história do rock, como o fez Chuck Berry ("Jonny B. Goode") e Little Richards ("Tutti Frutti"), não enlouqueceu as fãs com sua sensualidade e nem criou riffs memoráveis ou virtuosos - na verdade, muitas de suas canções são compostas de apenas um acorde repetido indefinidamente. Porém, Bo Diddley foi uma influência determinante para muitos artistas que vieram depois dos anos 50. A batida criada por ele – a jungle beat – passou pelas mãos de bandas como Rolling Stones, Stooges e New York Dolls. Aliada ao vocal falado (na linha dos talking blues), o estilo desenhado por ele antecipou o rap.

Apesar de não ser um grande vendedor de discos nos EUA, ele era considerado um astro do porte de Chuck Berry e Muddy Waters na Inglaterra. Os garotos ingleses encontraram em Bo Diddley o suingue que faltava em suas canções - não é a toa que grupos como Yardbirds, Animals e Rolling Stones tenham feito covers de suas canções. O mais irônico é que exatamente quando os Beatles e os Rolling Stones começaram a fazer sucesso na América, o interesse pela obra de Diddley diminuiu. Porém, ele continuou tocando e chegou a fazer uma turne com o The Clash, banda influenciada por sua música, em 1979.

Pequena história do rock brasileiro

Hans Robert Jauss, em seu livro História da Literatura como Provocação à crítica Literária, afirma que a história de qualquer forma artística não é possível sem algumas grandes obras de referência longevas na diacronia e integradoras na sincronia. Assim, a observação de quatro álbuns podem ajudar definir a trajétória do rock brasileiro, a saber: É proibido fumar, de Roberto Carlos; Os Mutantes, da banda Os Mutantes; Dois de Legião Urbana e Bloco do eu sozinho de Los Hermanos.

Os pioneiros



Há quem pense que a história do rock nacional só tenha começado em 1982. Há aqueles que ousam voltar um pouco mais no tempo e incluir também Os Mutantes, Secos e Molhados e Raul Seixas nessa história. Porém, poucos levam em consideração os conjuntos que ajudaram a consolidar a música jovem no Brasil durante as décadas de 50 e 60. Pode causar surpresa pensar que, ainda nos anos 50, o país ganhou seus primeiros ídolos do rock: Cely Campello (Estúpido Cupido e Biquíni de Bolinha Amarelinha), Carlos Gonzaga (Diana), Sérgio Murilo (Marcianita e Broto Legal), Tony Campello, Demétrius, Albert e Meire Pavão. Eles representaram o rock em sua vertente mais adocicada, a das baladas.
Com o passar do tempo, essa geração foi substituída por outra, mais influenciada pelo rock inglês que pelo americano. Diferente do que havia acontecido, o que estava sendo produzido não era mais apenas uma cópia da música americana, e sim uma nova linguagem musical, com características nacionais. Os grupos dessa geração avançaram em relação à dos Campello tanto musical quanto tematicamente. Os arranjos não eram mais mero suporte para os vocais, a guitarra ocupava cada vez mais agressivamente seu espaço. Do mesmo modo, as letras iam além da ingenuidade piegas e, ao tratar de “carangas” e “festanças”, estavam mais próximas da realidade urbana do país. Animado pela invasão das bandas inglesas, em 1963 Roberto Carlos lançou É Proibido Fumar, álbum que consolidou a chegada do rock ao Brasil. Entrava em cena a uma música jovem, com elementos ligados à cultura jovem (mais até do que a bossa nova) e toda uma nova constelação de artistas.
O impacto que esse novo tipo de sonoridade teve no Brasil pôde ser sentido em 1966, no I Festival de Conjuntos patrocinado pela Jovem Guarda do qual participaram cerca de cinco mil bandas de rock. Essa explosão inicial do rock no país seria o ponto de partida para outros grupos, como Os Mutantes, que logo estariam embarcando na viagem psicodélica dos americanos e ingleses. O tropicalismo, que se apresentaria no disco-manifesto Panis et Circencis, apareceria no momento em que a Jovem Guarda iniciava o seu declínio. Segundo Erasmo Carlos, foi justamente esse movimento uma das principais causas do esvaziamento da Jovem Guarda. "A Tropicália era uma Jovem Guarda com consciência das coisas, e nos deixou num branco total" (Calado, 1995 p.54).

A primeira mutação



No final da década de 60, existia uma oposição muito forte entre a Jovem Guarda, tomada como música alienante e americanizada, e a canção de protesto, essa sim considerada autenticamente brasileira. Os Mutantes, ao lado de Gilberto Gil e sob a tutela do maestro Rogério Duprat, ajudaram a borrar essa fronteira. Em 1968, ao utilizar guitarras elétricas no arranjo de Domingo no Parque no III Festival da Música Popular Brasileira eles cometeram uma afronta aos esquerdistas conservadores. "Gil e Os Mutantes eram os primeiros a cometer essa afronta, sua presença no festival significou a profanação do tempo da até então chamada música popular brasileira" (Calado, 1995 p.108). Os puristas tinham espasmos de indignação. Não deu outra: foram vaiados. E seriam vaiados por muito tempo.
Os Mutantes e os tropicalistas tomaram para si a missão de ligar duas correntes da música brasileira até então antagônicas. Essa fusão marcou um dos momentos mais importantes dos anos 60 e da história da música brasileira. Os Mutantes, primeiro álbum da banda, criou um parâmetro que foi seguido por muito tempo pelo rock brasileiro –conjuntos como Os Novos Baianos, Secos e Molhados e o baiano Raul Seixas tinham como característica principal misturar, muitas vezes com ironia, ritmos brasileiros com rock. Da mesma forma, a outra manifestação de rock no Brasil dos anos 70, o rock progressivo, foi fortemente influenciada pela segunda fase dos Mutantes. Somente nos anos 80, o rock brasileiro se libertaria da influência do tropicalismo e dos Mutantes.

Geração Coca-Cola



Se alguém estivesse esperando alguma novidade no rock brasileiro do início dos anos 80, a atitude mais óbvia seria prestar atenção nos novos álbuns dos irmãos Baptista e de Rita Lee, os ex-Mutantes. Porém quem pensasse assim seria surpreendido. O tipo de música que mostrou a cara no início dos anos 80 não tinha nada a ver com as bandas dos anos 70 - descendia da simplicidade importada do punk, pós-punk e new wave. “Era um novo rock brasileiro, curado da purple-haze psicodélica-progressiva dos anos 70, livre de letras metafóricas e do instrumental state-of-the-art, falando em português claro de coisas comuns ao pessoal de sua própria geração” (Dapieve, 1995 p.195).
Quando a vigilância foi abrandada, pelo processo de redemocratização do Brasil, a MPB teve dificuldades para se livrar de seus antigos artifícios de sobrevivência – linguagem rebuscada com metáforas impenetráveis e conteúdo subentendido. Da mesma forma que o punk se levantou contra a pomposidade da música pop, no Brasil foi efetuado um corte proposital em relação à MPB, tomada como antiquadra. Com o arranjos simples e os cabelos curtos e espetados, o rock brasileiro começa a reaparecer principalmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Um dos principais representante de todo esse movimento é o segundo LP da banda Legião Urbana, Dois - pelo fato de resumir principais traços do rock brasileiro da década de 80, além de ter alcançado um grande sucesso comercial. Nesse álbum, banda evoluiu do punk rock inicial ao pós-punk, o que de certo modo resume o caminho percorrido por todas as outras bandas da época, e conseguiu moldar por muito tempo o gosto musical e o horizonte de expectativas do ouvinte de rock brasileiro. No segundo álbum, “eles evitaram bisar (fazer bis) a politização punk do primeiro trabalho e partiram para o lirismo pós-punk, cheio de violões e teclados” (Dapieve, 1995 p.133). O Lp foi um sucesso de vendas e fez de Renato Russo o porta-voz da juventude brasileira.
Se o rock passou mais de três décadas antes de conseguir cidadania brasileira, foi nos anos 80 que ele conseguiu essa autonomia. “Nem em seu momento de maior sucesso popular, a Jovem Guarda, ele (o rock) conseguia deixar de ser tratado, por quase todos, como uma febre passageira, que logo os glóbulos verde-e-amarelos se encarregariam de expulsar do corpo na música brasileira” (Dapieve, 1995 p.11). A maior parte das bandas dos anos 80 ainda estão em atividade, com o tempo foram sendo assimiladas pela música brasileira. Na verdade, essa é uma via de mão dupla. Se por um lado, passou-se a tolerar a existência de um rock genuinamente brasileiro, este incorporou cada vez mais elementos da música brasileira em sua poética.

O pouco que sobrou



A reaproximação do rock com os gêneros tradicionais da música brasileira efetuada, no início dos anos 90, por bandas como Raimundos e Nação Zumbi deu margem ao retorno de uma sonoridade situada na fronteira entre o pop e a MPB. Dentre as bandas de destaque dos últimos anos está Los Hermanos – que também retoma gêneros como samba, samba-canção, bolero, as marchinhas de carnaval, entre outros. Em 2001, o grupo lançou o álbum Bloco do Eu Sozinho que marcou uma mudança na trajetória da banda e introduziu uma maneira de relacionar letra e melodia próxima à adotada pela bossa nova. “Tido por nove entre dez entendidos em música como um divisor de águas no rock nacional, dosando influências de samba, carnaval de aula de sociologia e rock, O Bloco do Eu Sozinho arrebatou tudo e todos” (Lima, 2004 on-line)
O álbum foi um sucesso de crítica e, apesar de ser relativamente novo, influenciou a sonoridade de uma série de bandas como Gram e Ludov – prenunciando um possível novo caminho para o rock brasileiro.

A história do rock resumida em 2 momentos

A história do rock é marcada por dois momentos, dois gestos que se repetiram diversas vezes. O primeiro desses gestos – um gesto de exploração, de mistura – ocorreu no final da década de sessenta, quando o rock´n roll provou ser mais que uma gênero adolescente. Depois da estabilização de sua sonoridade no início dos anos 50 e sua posterior decadência no final desta década, o rock´n roll acompanhou, de certa forma guiou, a mudança da juventude no final dos anos 60. Podemos eleger o álbum Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band como principal símbolo desse movimento, apesar de que mudança acontecia ao mesmo em diversas bandas.


O comportamento proposto pelo Sargent Peppers... era de exploração da sonoridade do rock´n roll e de alargamento das fronteiras de um gênero musical que descendia dos três acordes imutáveis do blues. Esse gesto foi posto em prática exaustivamente e radicalizado durante o final da década de 60. O Rock Progressivo da década de 70 foi não mais que uma exacerbação desse movimento começado pelos Beatles. Na esperança de ser reconhecida como uma forma de arte superior, essas bandas cometeram os mais descabidos desatinos – desde faixas com mais de dez minutos até a criação de formatos pseudo-eruditos como a ópera rock (apesar de Tommy ser um bom disco).



Dessa forma, abriu-se espaço para o segundo gesto que marcaria a história do rock: um gesto de triagem, de procura do menor denominador comum. Do meio para o final da década de 70 algumas bandas como New York Dolls e Ramones tentaram mostrar – apesar de eu achar que eles tinham um QI muito baixo para ter alguma noção do que eles queriam mostrar – que o rock tinha outras qualidades além das infindáveis melodias e mudanças harmônicas propostas pelo rock progressivo. No primeiro álbum dos Ramones, a valorização do pulso, do ritmo e da dança foi guiada pela escolha da menor quantidade de acordes, a menor mudança de ritmo, a ausência de solos. O punk rock funcionou como uma lembrança do que o rock´n roll é em sua origem – uma música para dançar.

A partir daí, essas duas tendências se repetiram durante as décadas subseqüentes. A exacerbação do metal farofa dos anos 80 foi “curada” pelas guitarras secas do grunge. Os gritinhos frenéticos de outrora são substituídos pelos vocais monotônicos de bandinhas como Strokes.

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