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Mensagens vindas de 93. Danilo Fraga Texto publicado no Caderno Dez!, A Tarde.

Mais de uma década atrás, no ano de 1993, ainda não existiam indies. Naquela época ser “alternativo” significava gostar de algumas bandas de rock norte-americanas que, como Fugazi e Rites Of Spring, buscavam uma nova forma de tocar punk rock. Suas letras não tratavam de crítica social, mas de temas subjetivos; suas músicas iam além dos três acordes básicos do punk, experimentando a dissonância, novos ritmos, novos timbres e, principalmente, novos arranjos vocais. Ainda dava para chamar “isto” de punk rock? Talvez não. Emo, emocore ou simplesmente alternativo foram definições comuns para este tipo de música.
Mais ou menos nesta mesma época surgiam no Brasil bandas como o CPM 22, que pouco a pouco descobriam procuravam a formula mágica para fazer emocore em português. Na verdade, eles importavam a métrica e entonação das bandas americanas com poucas modificações – o que, na prática, consistia em terminar todas as sentenças com um verbo e esticar última sílaba deste até o final do compasso. No decorrer da década surgiram outras soluções para o problema, como a do Dance of Days e Noção de Nada – ambas frustradas. Com uma sonoridade mais vendável, bem na fronteira entre o hardcore melódico californiano e o emocore, o CPM 22 terminou a década como uma das bandas de rock brasileiro de maior visibilidade. Foi ela que trouxe este tipo de sonoridade ao conhecimento do gosto médio.
Acontece que, acidentalmente ou não, “1993” também é o nome da melhor faixa de “Revés em si bemol”, o primeiro álbum da baiana Mirabolix – banda formada por Matheus Brasil [guitarra e violão], Davi Cokeiro [bateria, trompa e escaleta], Rafael Nunezz [voz], Maurício Tokimatsu [guitarra] e Bernardo Von Flach [baixo e gritos]. O lançamento do álbum é nesta quarta, dia 07 de dezembro, a partir das 22 horas no Miss Modular [Rio Vermelho]. Além de Marabolix o show conta com a participação da banda Automata e dos Djs Big [hip hop], Roots [drum'n'bass] e Bassick [drum'n'bass]. O ingresso é R$ 7, mas pagando R$ 20 você leva também o CD da banda.
Na primeira faixa do álbum, “Redemoinhos”, já se percebe que grupo tem uma relação estreita com o emocore americano: guitarra pesada, mas não muito suja, dissonâncias, bateria alternando entre versos rápidos e cavalgados e outros mais cadenciados, arranjo vocal bem trabalhado, enfim, todos os clichês do gênero são [bem] explorados nesta canção. Assim também se passa em “Tudo de novo; começo sem fim”, “Histórias que não teria deixado para trás...”, “Ciscos na Imensidão”, “Agressões Noturnas”, entre outras.
Mas é quando a primeira faixa dá lugar a “Pular no Mar” que percebemos que Mirabolix é muito mais do que isso. Neste álbum, o emocore dá lugar a todo tipo de experimentação – com instrumentos heterodoxos [como trompa, escaleta, violino, oboé e maquina de escrever], efeitos sonoros estranhos, conversas pelo telefone, além diálogos com gêneros bem diversos. Lembrando que uma das principais características do emocore é exatamente a experimentação e questionamento das fronteiras do punk rock, Mirabolix tem o mérito de transportar a experimentação de bandas como The Get Up Kids [com seus arranjos de teclado que as vezes lembram Duran Duran] para o cenário da música brasileira. Neste sentido a bossa nova de “1993” e “Já passou”, o samba de “Mundo Velho” e “Pular no Mar” e o blues pra lá de psicodélico de “Naked by” fazem todo o sentido.
E não é somente na sonoridade que a banda dialoga com o emocore. O material promocional [sites, fotos, encartes] são típicos do gênero, além das letras e vocalizações da maioria das canções. Na verdade, as experimentações da banda é só mais uma prova que eles dialogam com o gênero do The Get Up Kids. A banda tem um grande mérito: conseguir adaptar perfeitamente a dicção do emocore para o português sem precisar apelar para o alongamento vocálico do CPM 22. Assim, Mirabolix quase consegue fazer o emocore soar adulto, se é que isto é possível.
Revés em si bemol Atalho Discos R$ 15
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